Meu Camarada Sete-Três ( in Memória)
Eu o conheci em 1997, estudamos na mesma classe de Teoria Musical da Escola de Música Villa-Lobos.
Aproximados pela afinidade e o apreço que tínhamos pelo hip hop logo
fizemos amizade, uma identificação natural por termos algo em comum.
Trocando idéias, revelamos um para o outro das nossas intenções, dos
nossos projetos e de nossas habilidades: ambos éramos letristas e
intérpretes sonhadores e cheios de planos, dois rimadores buscando
conhecimento teórico e batalhando para gravar o disco de estréia. No
mesmo ano inscrevi uma composição no festival da escola, que foi
classificada e ficou entre as finalistas. A música foi gravada e
incluída na coletânea Festvilla 3. Ronier 73, por sua vez, já vinha gravando algumas faixas com seu parceiro D.J. Juan Melo, e interagindo com outros artistas de rep das zonas Norte e Oeste da cidade do Rio. Conforme nosso grau de camaradagem foi aumentando a parceria entre G.N. (eu) e 73
parecia inevitável. Fui convidado por ele, tempos depois, para
acompanhá-lo em apresentações fazendo voz de apoio. Tive o prazer de
recebê-lo em minha casa para ensaiar.
Com o mano participei como convidado do evento Hip Hop Rio, promovido por Marcelo D2, e lá fui apresentado ao então líder do Planet Hemp, além de conhecer vários M.C.`s como Marechal (de Niterói) e Dom Negrone (de São Gonçalo). Ainda me lembro daquele dia na Lona Cultural de Realengo, noite chuvosa porém animada ao som das rimas e batidas, teve até uma sessão de improviso (freestyle rap) onde quase todo mundo que estava no palco mandou seu recado sobre a base instrumental de Itzsoweeze, do De La Soul. Naquele
momento eu já havia participado de uma segunda coletânea pela citada
escola de música e a fama do meu prezado camarada crescia cada vez mais
entre as pessoas envolvidas ou que acompanhavam o ‘movimento’ hip hop
carioca. Posteriormente, Ronier recebeu um convite para se apresentar num (extinto) programa de atrações musicais da Xuxa,
foi a maior exposição que ele teve em sua curta carreira. Aparecer na
TV, cantando música própria, o motivou e encheu o peito do jovem
repeador de esperança por um futuro promissor – ele ansiava por um
contrato com uma gravadora ou gerar o interesse de algum empresário do
ramo artístico disposto a investir. Mas suas ambições não se
concretizaram.
Num estúdio do bairro Ilha do Governador (R.J.) gravamos a faixa Quem Cala Consente (nosso único registro fonográfico), lançada no fim de 2001 no C.D. Zoeira Hip Hop – encartado em uma das edições da revista TRIP (que tem a Marisa Monte na capa), curiosamente meu nome não aparece nos créditos do disco. A coletânea idealizada pela agitadora cultural Elza Cohen chegou a dar destaque para alguns artistas que ainda estão em atividade (Black Alien, BNegão,
etc.). Recordo-me também que uma vez fizemos um “pacto” (de
brincadeira) prometendo ajudar o outro, caso um de nós despontasse
primeiro ao se estabelecer no mercado musical. Hoje quando leio um dos
versos dessa música do 73 fico até arrepiado, num trecho ele diz: “Canto
os encantos e prantos, e admito não sou santo/Também sou da raça humana
e estou vivo por enquanto/Não faço nem idéia do que me reserva o
destino/Mas derrubando barreiras é como eu me imagino...”. Infelizmente o querido Roni (como
também era chamado pelos amigos) não vive mais, faleceu há dois anos
atrás, 16/04/2007, num acidente automobilístico aos 30 anos de idade.
De
uns anos pra cá nossas carreiras tomaram rumos diferentes, perdemos um
pouco do contato e depois eu soube que ele tinha se desiludido com a
música, abandonou tudo aquilo em que acreditava, prestou concurso e
entrou para a Polícia Militar, visando estabilidade financeira. Mudou radicalmente, deixou de ser o M.C. 73 para se tornar o policial Ronier Célio.
Quando morreu estava a serviço junto com um colega, um maldito caminhão
perdeu o controle e bateu brutalmente contra a viatura – os dois foram a
óbito no local. Sinto muitas saudades desse grande cara, vai ficar para
sempre em minha mente a imagem desse jovem talentoso, generoso e
companheiro acima de tudo. Seguirei o exemplo do Ronier 73 (nasc.: 1977 – falec.: 2007) e reforço seu pensamento: “A união faz a força,
diz o velho ditado/E esse mundo parece cada vez mais disputado/Mas não
concorro com você, eu coopero por nós/Se liga no refrão que eu quero
ouvir a sua voz:/Tome, como nós, essa atitude inteligente/Mostre a sua
voz, pois quem cala consente”.
Descanse em paz, meu amigo! Dedico à sua memória a canção Superstar, do Lupe Fiasco (c/ participação especial de Matthew Santos).
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