internet está sendo atacada e você está no meio do tiroteio
Não se engane, a internet está sob ataque. Desde o começo do ano já tivemos algumas batalhas sangrentas. O Megaupload foi fechado e seus diretores presos – perdemos essa. O governo americano tentou emplacar uma série de leis e tomaram porrada do mundo todo, inclusive de gigantes como google, facebook e wikipedia – ganhamos essa.
Há algumas semanas Eric Raymond, um dos caras que ajudou a criar o movimento open source e um dos hackers mais respeitados que tem por aí, escreveu uma carta aberta a um dos senadores americanos que estão nessa briga. É uma verdadeira declaração de guerra! “Não mexa com nossa internet!” . No começo do ano, o grupo Anonymous também declarou guerra e vem desde então promovendo uma série de ataques. Agora em março, estão promovendo um boicote a indústria do entretenimento, o março negro.
E eu? E você? O que fazemos no meio desse tiroteio? Assistimos as notícias na TV? Curtimos links no facebook? Nâo. Nós temos papel fundamental nessa história. Eu separei aqui três coisas que considero fundamentais fazer a partir de agora: entender o que está em jogo (para que você possa assumir uma posição bem definida), diminuir nossa vulnerabilidade (para que fique mais difícil de atacarem nossas liberdades) e incentivar a produção independente (ninguém sabe como esse novo modelo que está surgindo vai ser, ajude a inventá-lo!).
A indústria diz que a pirataria gera milhões de prejuízo: 10 milhões de arquivos foram baixados ilegalmente; Cada arquivo desse, se comprado legalmente, custaria em média 10 dólares: Isso dá 100 milhões de prejuízo. Essa é a conta que é feita. Mas é óbvio que ela é irreal. Se não houvesse o download, uma ínfima parcela dessas pessoas de fato comprariam o disco ou o DVD. Pense em você, você compraria tudo o que você baixa? Claro que não.
O que a indústria se esforça para não enxergar é que o efeito, na verdade, é inverso. O compartilhamento de arquivos incentiva o consumo e há mais de um estudo que mostra isso. As pessoas tem contato com muito mais coisas e podem conhecer artistas que nunca conheceriam se não fossem pelas redes de compartilhamento e pelos blogs de música.
O compartilhamento também democratiza o acesso a cultura e ao conhecimento. Precisamos pensar no que está acontecendo fora das grandes cidades. Imagine uma cidade no interior do Amazonas, isolada fisicamente mas conectada pela internet. Se as pessoas que moram nessa cidade quisessem ter acesso legítimo a produção cultural do planeta não poderiam. Não há cinemas, as lojas só vendem os blockbusters e as locadoras oferecem poucas opções. Resta a TV e o rádio. A indústria não oferece um meio para que essas pessoas tenham acesso a produção cultural, mesmo se elas quisessem pagar. O que fazemos então? Dizemos para eles continuarem assistindo TV!? DIzemos para eles que eles não podem participar? Vendamos seus olhos e tapamos seus ouvidos? Isso é um absurdo!
E para quem poderia comprar, o compartilhamento não é só mais barato (de graça) – ele é melhor. É mais rápido (não precisa esperar meses depois do lançamento), é mais prático (download direto na sua casa), não tem limites geográficos (alguns conteúdos vendidos pela indústria só estão disponíves em alguns países) e não tem DRM (você vai poder fazer uma cópia para a sua tia). Pense no caso das séries americanas que algumas horas depois de irem para o ar nos EUA já têm uma versão legendada para download. Se um grupo de pessoas, descentralizadamente e sem fins lucrativos, consegue ter esse nível de serviço porque a indústria não consegue fazer melhor? Porque não quer! Eu já lancei esse desafio e já propus uma receita (e não fui o único a fazê-lo).
E todo o legado de produção cultural que está fora de catálago? Temos que esperar que a indústria resolva achar que vale a pena comercializá-los novamente? Devemos deixar nossa memória apodrecendo em seus arquivos? Claro que não!
Percebem que para proteger meia dúzia de Justins e Ladies a indústria aprisiona toda a história da nossa produção cultural e exclui todas as pessoas que não estão em grandes centros urbanos? De repente chegamos a um ponto na história que podemos compartilhar nossa produção cultural e de conhecimento com o mundo todo instantaneamente, podemos colaborar em escala global, podemos transpor fronteiras geográficas e políticas e unir as pessoas… mas indústria quer desligar a máquina que faz isso porque não consegue se adaptar. Percebe que não estou exagerando quando falo em evolução…?
“Mas nós estamos defendendo o direito dos artistas!” eles vão dizer. Não é verdade. Os artistas estão achando alternativas e cada vez mais percebendo que não dependem dessa indústria de intermediação. Desde os consagrados até os novos independentes, todos estão aprendendo a usar a rede para estabelecer contato direto com seu público. Fechar o megaupload não aumentou em nada a receita de nenhum artista!
E outra, a produção musical nunca esteve tão bem. Basta dar uma olhada na quantidade e na qualidade dos álbuns lançados ano passado. Tem muita coisa boa rolando! Mas a indústria não se dá bem com tamanha diversidade.
O que a SOPA queria e a ACTA quer é que todos os provedores de acesso a conteúdo se transformem em policiais, investigando o tempo todo tudo o que nós fazemos e enviando essas informações as autoridades. Eles querem transformar a rede em uma área totalmente vigiada e querem obrigar as empresas que provêm o conteúdo a transformarem-se em vigilantes. Abrir mão da nossa privacidade e liberdade, matar a internet em sua raíz, para proteger interesses de algumas indústrias dos países desenvolvidos. A Suíça não concorda, eu não concordo.
E tudo isso que eu falei aqui acima é apenas uma pequena parcela da jogada. Estamos falando de música, de cultura. Mas eles estão de olho em muito mais. Essa lei também seria uma ameaça, por exemplo, aos medicamentos genéricos.
Para saber mais sobre como o ACTA ameaça nossa liberdade e o que podemos fazer, recomendo este dossiê.
Então se alguém te perguntar sobre o assunto, não responda com um ar de confusão, como se fosse uma questão complicada que você não sabe no que vai dar. Diga que essas leis são absurdas e que nesses termos não podemos negociar com a indústria – ela vai ter que mudar e se adaptar.
A natureza da internet é o p2p. Ao estarmos em rede, compartihando arquivos e recursos diretamente uns com os outros, se torna muito difícil, pra não dizer impossível, que alguém consiga tirar alguma coisa que publicamos do ar. A rede p2p não depende de apenas um servidor. Todas as pessoas estão ao mesmo tempo servindo e consumindo. Para desligar a rede, seria preciso desligar o computador de todo mundo.
Não entende exatamente o que é o p2p? Basicamente o p2p (ou peer to peer, ponto a ponto) é uma maneira de compartilhar arquivos sem depender de um servidor central. Ao invés de todo mundo baixar um arquivo de um mesmo lugar, todos baixam uns dos outros. Se mais de uma pessoa tem o arquivo que você procura, você pode até baixar de várias pares ao mesmo tempo – tudo isso automaticamente.
Se quiser entender melhor, tem um artigo no How Stuff Works e outro interessante neste blog do g1. Neste último, escrito por um especialista em segurança, ele coloca:
Então vamos as atitudes práticas:
Há algumas semanas Eric Raymond, um dos caras que ajudou a criar o movimento open source e um dos hackers mais respeitados que tem por aí, escreveu uma carta aberta a um dos senadores americanos que estão nessa briga. É uma verdadeira declaração de guerra! “Não mexa com nossa internet!” . No começo do ano, o grupo Anonymous também declarou guerra e vem desde então promovendo uma série de ataques. Agora em março, estão promovendo um boicote a indústria do entretenimento, o março negro.
E eu? E você? O que fazemos no meio desse tiroteio? Assistimos as notícias na TV? Curtimos links no facebook? Nâo. Nós temos papel fundamental nessa história. Eu separei aqui três coisas que considero fundamentais fazer a partir de agora: entender o que está em jogo (para que você possa assumir uma posição bem definida), diminuir nossa vulnerabilidade (para que fique mais difícil de atacarem nossas liberdades) e incentivar a produção independente (ninguém sabe como esse novo modelo que está surgindo vai ser, ajude a inventá-lo!).
1. Entender o que está em jogo.
É preciso ter clareza de que o dilema do direito autoral na internet não é só “uma questão complicada mesmo” e que “tem que ser encontrado um equilíbrio, que talvez algumas coisas que a indústria está querendo fazer (controlar) faça sentido”. Não, não faz! Não estou dizendo que é simples, mas estou dizendo que todos os argumentos que eles colocam são falsos e todas as soluções que eles propõe são um atentado a nossa liberdade e a nossa evolução enquanto humanidade! Não, isso não é exagero! Olha só…A indústria diz que a pirataria gera milhões de prejuízo: 10 milhões de arquivos foram baixados ilegalmente; Cada arquivo desse, se comprado legalmente, custaria em média 10 dólares: Isso dá 100 milhões de prejuízo. Essa é a conta que é feita. Mas é óbvio que ela é irreal. Se não houvesse o download, uma ínfima parcela dessas pessoas de fato comprariam o disco ou o DVD. Pense em você, você compraria tudo o que você baixa? Claro que não.
O que a indústria se esforça para não enxergar é que o efeito, na verdade, é inverso. O compartilhamento de arquivos incentiva o consumo e há mais de um estudo que mostra isso. As pessoas tem contato com muito mais coisas e podem conhecer artistas que nunca conheceriam se não fossem pelas redes de compartilhamento e pelos blogs de música.
O compartilhamento também democratiza o acesso a cultura e ao conhecimento. Precisamos pensar no que está acontecendo fora das grandes cidades. Imagine uma cidade no interior do Amazonas, isolada fisicamente mas conectada pela internet. Se as pessoas que moram nessa cidade quisessem ter acesso legítimo a produção cultural do planeta não poderiam. Não há cinemas, as lojas só vendem os blockbusters e as locadoras oferecem poucas opções. Resta a TV e o rádio. A indústria não oferece um meio para que essas pessoas tenham acesso a produção cultural, mesmo se elas quisessem pagar. O que fazemos então? Dizemos para eles continuarem assistindo TV!? DIzemos para eles que eles não podem participar? Vendamos seus olhos e tapamos seus ouvidos? Isso é um absurdo!
E para quem poderia comprar, o compartilhamento não é só mais barato (de graça) – ele é melhor. É mais rápido (não precisa esperar meses depois do lançamento), é mais prático (download direto na sua casa), não tem limites geográficos (alguns conteúdos vendidos pela indústria só estão disponíves em alguns países) e não tem DRM (você vai poder fazer uma cópia para a sua tia). Pense no caso das séries americanas que algumas horas depois de irem para o ar nos EUA já têm uma versão legendada para download. Se um grupo de pessoas, descentralizadamente e sem fins lucrativos, consegue ter esse nível de serviço porque a indústria não consegue fazer melhor? Porque não quer! Eu já lancei esse desafio e já propus uma receita (e não fui o único a fazê-lo).
E todo o legado de produção cultural que está fora de catálago? Temos que esperar que a indústria resolva achar que vale a pena comercializá-los novamente? Devemos deixar nossa memória apodrecendo em seus arquivos? Claro que não!
Percebem que para proteger meia dúzia de Justins e Ladies a indústria aprisiona toda a história da nossa produção cultural e exclui todas as pessoas que não estão em grandes centros urbanos? De repente chegamos a um ponto na história que podemos compartilhar nossa produção cultural e de conhecimento com o mundo todo instantaneamente, podemos colaborar em escala global, podemos transpor fronteiras geográficas e políticas e unir as pessoas… mas indústria quer desligar a máquina que faz isso porque não consegue se adaptar. Percebe que não estou exagerando quando falo em evolução…?
“Mas nós estamos defendendo o direito dos artistas!” eles vão dizer. Não é verdade. Os artistas estão achando alternativas e cada vez mais percebendo que não dependem dessa indústria de intermediação. Desde os consagrados até os novos independentes, todos estão aprendendo a usar a rede para estabelecer contato direto com seu público. Fechar o megaupload não aumentou em nada a receita de nenhum artista!
E outra, a produção musical nunca esteve tão bem. Basta dar uma olhada na quantidade e na qualidade dos álbuns lançados ano passado. Tem muita coisa boa rolando! Mas a indústria não se dá bem com tamanha diversidade.
O que a SOPA queria e a ACTA quer é que todos os provedores de acesso a conteúdo se transformem em policiais, investigando o tempo todo tudo o que nós fazemos e enviando essas informações as autoridades. Eles querem transformar a rede em uma área totalmente vigiada e querem obrigar as empresas que provêm o conteúdo a transformarem-se em vigilantes. Abrir mão da nossa privacidade e liberdade, matar a internet em sua raíz, para proteger interesses de algumas indústrias dos países desenvolvidos. A Suíça não concorda, eu não concordo.
E tudo isso que eu falei aqui acima é apenas uma pequena parcela da jogada. Estamos falando de música, de cultura. Mas eles estão de olho em muito mais. Essa lei também seria uma ameaça, por exemplo, aos medicamentos genéricos.
Para saber mais sobre como o ACTA ameaça nossa liberdade e o que podemos fazer, recomendo este dossiê.
Há, no Twitter, intensa postagem com referências a material importante sobre o acordo. Pesquisar por #ACTA. Acompanhar, em particular, as microblogagens de James Love, Michael Giest, Philippe Rivière,OpenActa (rede mexicana) e, no Brasil, de Caribé, Fátima Conti,Marcelo Branco e Sérgio Amadeu.Aqui no Brasil temos uma briga importante contra o Projeto de Lei do Senador Eduardo Azeredo – que assumiu recentemente a Comissão de Tecnologia do congresso. Saiba o que é e como combater.
Então se alguém te perguntar sobre o assunto, não responda com um ar de confusão, como se fosse uma questão complicada que você não sabe no que vai dar. Diga que essas leis são absurdas e que nesses termos não podemos negociar com a indústria – ela vai ter que mudar e se adaptar.
2. Tomar atitudes práticas no nosso dia a dia na rede para que não fiquemos vulneráveis
A segunda coisa que precisamos fazer envolve uma mudança de hábitos. Para diminuir nossa vulnerabilidade, temos que fomentar as redes P2P. Se continuarmos a usar serviços de upload na “nuvem”, será muito fácil rastrear e apagar nosso conteúdo. Há até relatos de que o google poderia até apagar arquivos mp3 do seu Gmail. Neste modelo, basta tirar um único servidor do ar para afetar o compartilhamento entre milhares de pessoas.A natureza da internet é o p2p. Ao estarmos em rede, compartihando arquivos e recursos diretamente uns com os outros, se torna muito difícil, pra não dizer impossível, que alguém consiga tirar alguma coisa que publicamos do ar. A rede p2p não depende de apenas um servidor. Todas as pessoas estão ao mesmo tempo servindo e consumindo. Para desligar a rede, seria preciso desligar o computador de todo mundo.
Não entende exatamente o que é o p2p? Basicamente o p2p (ou peer to peer, ponto a ponto) é uma maneira de compartilhar arquivos sem depender de um servidor central. Ao invés de todo mundo baixar um arquivo de um mesmo lugar, todos baixam uns dos outros. Se mais de uma pessoa tem o arquivo que você procura, você pode até baixar de várias pares ao mesmo tempo – tudo isso automaticamente.
Se quiser entender melhor, tem um artigo no How Stuff Works e outro interessante neste blog do g1. Neste último, escrito por um especialista em segurança, ele coloca:
A “detecção de tráfego” que ele coloca é um risco real, e já há tentativas de se fazer isso: é a briga pela neutralidade da rede, que é crucial. Esse post já está longo demais para falarmos sobre isso, mas é importante registrar que precisamos ficar espertos.A única maneira de derrubar por completo essas redes seria por meio de detecção de tráfego, ou seja, bloquear completamente o uso da rede P2P na infraestrutura dos provedores de internet. Isso seria tão difícil quanto prender todos os donos de servidores: tecnicamente, é uma tarefa “pesada” e também complexa, porque protocolos P2P podem utilizar criptografia e outros mecanismos que dificultam a identificação do tráfego.Além disso, as redes P2P não são maliciosas por conta própria. Proibi-las completamente iria resultar em extensas discussões legais sobre o direito à liberdade de expressão.
Então vamos as atitudes práticas:
- Se você é um DJ ou um cinéfilo, que tem um blog para divulgar filmes ou discos, não divulgue links de sites de download. Use p2p! Incentive e ajude os seus leitores a utilizarem p2p!
- Se você não publica nada, mas adora baixar. Use p2p! Baixe um bom programa de torrent. Use o SoulSeek para baixar músicas dos seus amigos e descubra como é divertido! E lembre-se, baixe e deixe baixar. Nâo feche o programa assim que o download estiver concluído.
3. Incentivar a produção independente
Ajude os artistas que você gosta.Estamos todos perdidos com todas essas mudanças e ninguém sabe muito bem como esse povo todo poderá se sustentar. E não estamos falando só de músicos, mas de fotógrafos, artistas plásticos, cineastas, escritores, blogueiros e jornalistas, etc. Mas na verdade a resposta é muito simples: é preciso que o público suporte o trabalho desses produtores diretamente, sem intermediários.
Cobre daquela pessoa de quem você é fã do trabalho: “Ei, eu quero ouvir o seu disco e não achei o link para download no seu site. Eu vou baixar do mesmo jeito, mas eu gostaria de muito de baixar diretamente de você e de ter uma maneira fácil de lhe retribuir”; “como posso retribuir pelo seu trabalho?” e sugira uma alternativa, “por que você não coloca um link para doação; por que você não vende camisetas?”.
Tenha em mente que a internet não é uma ameaça a possibilidade de o artista ser remunerado pelo seu trabalho, ao contrário, ela é a solução para que isso aconteça. Nunca na história os autores tiveram uma maneira certa e segura de ganhar dinheiro. Durante o século XX e a era da indústria cultural, alguns poucos entraram em linha de produção e conseguiram – mas foram muito poucos. A internet, traz, pela primeira vez na história, a possibilidade real de que os autores possam viver exclusivamente do seu trabalho autoral, independentemente de contratos com empresas para pautarem seus trabalhos. (Isso também é uma forma de p2p, não é?)
Vamos nessa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SUA PALAVRA TÁ??