Mái uêi – Anos 1980
Mái uêi – Anos 1980
Postado por Cacau Amaral em http://lurdinha.org/site/?p=1252 em julho, 2011
1980
Dia 25 de agosto foi a inauguração do Viaduto. A festa do dia do soldado, que tradicionalmente era no Centro de Caxias, este ano foi em frente minha casa. Assistimos de cima do telhado. Só quando o presidente Figueiredo passou em desfile, descemos. Um camelô ficava me oferecendo biscoito globo e minha mãe mandou pegar. O cara cobrou o preço e minha mãe disse que não pagaria, pois ele me deu sabendo que não tinha dinheiro, já que era uma criança de 8 anos. À noite teve show do Dicró no portão do ferro velho.
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1981
Já contei essa história um milhão de vezes, mas não custa repetir. Todo ano minha mãe me levava ao cinema para assistir o lançamento do filme dos Trapalhões. Esse ano teve dois filmes. Aquilo era uma coisa extraordinária; mas, para minha surpresa, o filme era um documentário. Fiquei puto da vida e um bom tempo sem querer saber de documentário.
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1982
Michael Jackson, definitivamente, mudou o comportamento da galera do Centenário. É chato ter que admitir, mas poucos não tinham uma sapatilha japonesa e um casaco vermelho. Quem arrumasse uma luva branca virava herói, pois o par era disputado à tapa. Os papelões forrados nas esquinas passaram a fazer parte do cotidiano do bairro. Ninguém fazia ideia do que era a cultura hip hop. Imitávamos o que víamos na TV, sem politizar.
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1983
O récorde mundial do Ricardo Prado acabou levando minha mãe a me matricular na natação. Eu achei uma maravilha, pois no clube tinha quadra de futebol com taco e o cacete. Nunca mais iria arrancar o tampão do dedo bicando paralelepípedo. O maior problema era acordar no inverno e já estar dentro da piscina às 7h20min.
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1984
Com a abertura da novela Partido Alto a brincadeira foi ficando mais complexa. Todo dia às 8 da noite era hora de imitar os dançarinos da TV e no dia seguinte ir se exibir para a garotada. Na Escola Ana Laura aconteceu um concurso de break. Tinha um moleque que dançava horrores no alto, mas nunca ia pro chão. Os jurados acharam que deveríamos dividir o prêmio, uma fanta laranja e um pacote de biscoito Drink.
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1985
Ganhei meu primeiro disco de rock – Ultrage a Rigor. Também foi o ano que comecei a pichar. Acho que estava na sétima série e vi a galera pichando no banheiro de piloto. Primeiro me interessei artisticamente, depois percebi como era interessante as pessoas ficarem perguntando quem havia pichado o lugar tal. Do banheiro passamos à quadra de esportes, depois o pátio e por último a sala da coordenadora.
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1986
Fui para o Senai. Ganhei um ingresso para assistir o show do Plebe Rude no Circo Voador e lá vi um cartaz do Comício de Tudo. Uma série de shows punks que aconteciam às quintas à noite e domingos à tarde. Nunca mais ouvi a rádio Transamérica. A partir daquela noite de quinta com os shows de Garotos Podres, Ratos de Porão, Desordeiros e Distúrbio Social; passei a ouvir só a rádio Fluminense
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1987
Havia uma guerra declarada entre o rock e o funk. No baile os caras me chamavam de roqueiro e no rock de funkista. Naquela época não existia o termo funkeiro. Era funkista mesmo. Ir pro baile domingo era uma prática quase que escondida. A Fluminense não tocava ou tocava pouco hip hop, mas tocava reggae e um monte de música de preto. Os skatistas também ouviam bastante Rum DMC, Public Enemy. O filme Faça a Coisa Certa também entrou na ciranda pra ajudar a confundir.
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1988
Estava ficando famoso na pichação. Essa galera era bem mais democrática. Rolava de tudo: funk, punk, junk, yunk… No mesmo ano do filme Colors, caminhava pelo Centro de Caxias quando passei no sebo do Pará e ouvi aquele mesmo som do Ice T, só que cantado em português. Era o disco “Hip hop, cultura de rua”. Perguntei ao Pará que disco era aquele e ele não sabia responder. Levei a bolacha pra casa e a partir daquele dia percebi que também poderia cantar.
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1989
Parei de pichar. O terror da maioridade se aproximava e estava vendo vários amigos não conseguirem parar e acabarem na cadeia. Aproveitei as festas juninas para dar um tempo. Dois meses depois voltaria, mas o afastamento da galera me ajudou a não voltar mais. Já estava quase de maior.
Mái uêi – Anos 1980
Postado por Cacau Amaral em http://lurdinha.org/site/?p=1252 em julho, 2011
1980
Dia 25 de agosto foi a inauguração do Viaduto. A festa do dia do soldado, que tradicionalmente era no Centro de Caxias, este ano foi em frente minha casa. Assistimos de cima do telhado. Só quando o presidente Figueiredo passou em desfile, descemos. Um camelô ficava me oferecendo biscoito globo e minha mãe mandou pegar. O cara cobrou o preço e minha mãe disse que não pagaria, pois ele me deu sabendo que não tinha dinheiro, já que era uma criança de 8 anos. À noite teve show do Dicró no portão do ferro velho.
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1981
Já contei essa história um milhão de vezes, mas não custa repetir. Todo ano minha mãe me levava ao cinema para assistir o lançamento do filme dos Trapalhões. Esse ano teve dois filmes. Aquilo era uma coisa extraordinária; mas, para minha surpresa, o filme era um documentário. Fiquei puto da vida e um bom tempo sem querer saber de documentário.
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1982
Michael Jackson, definitivamente, mudou o comportamento da galera do Centenário. É chato ter que admitir, mas poucos não tinham uma sapatilha japonesa e um casaco vermelho. Quem arrumasse uma luva branca virava herói, pois o par era disputado à tapa. Os papelões forrados nas esquinas passaram a fazer parte do cotidiano do bairro. Ninguém fazia ideia do que era a cultura hip hop. Imitávamos o que víamos na TV, sem politizar.
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1983
O récorde mundial do Ricardo Prado acabou levando minha mãe a me matricular na natação. Eu achei uma maravilha, pois no clube tinha quadra de futebol com taco e o cacete. Nunca mais iria arrancar o tampão do dedo bicando paralelepípedo. O maior problema era acordar no inverno e já estar dentro da piscina às 7h20min.
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1984
Com a abertura da novela Partido Alto a brincadeira foi ficando mais complexa. Todo dia às 8 da noite era hora de imitar os dançarinos da TV e no dia seguinte ir se exibir para a garotada. Na Escola Ana Laura aconteceu um concurso de break. Tinha um moleque que dançava horrores no alto, mas nunca ia pro chão. Os jurados acharam que deveríamos dividir o prêmio, uma fanta laranja e um pacote de biscoito Drink.
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1985
Ganhei meu primeiro disco de rock – Ultrage a Rigor. Também foi o ano que comecei a pichar. Acho que estava na sétima série e vi a galera pichando no banheiro de piloto. Primeiro me interessei artisticamente, depois percebi como era interessante as pessoas ficarem perguntando quem havia pichado o lugar tal. Do banheiro passamos à quadra de esportes, depois o pátio e por último a sala da coordenadora.
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1986
Fui para o Senai. Ganhei um ingresso para assistir o show do Plebe Rude no Circo Voador e lá vi um cartaz do Comício de Tudo. Uma série de shows punks que aconteciam às quintas à noite e domingos à tarde. Nunca mais ouvi a rádio Transamérica. A partir daquela noite de quinta com os shows de Garotos Podres, Ratos de Porão, Desordeiros e Distúrbio Social; passei a ouvir só a rádio Fluminense
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1987
Havia uma guerra declarada entre o rock e o funk. No baile os caras me chamavam de roqueiro e no rock de funkista. Naquela época não existia o termo funkeiro. Era funkista mesmo. Ir pro baile domingo era uma prática quase que escondida. A Fluminense não tocava ou tocava pouco hip hop, mas tocava reggae e um monte de música de preto. Os skatistas também ouviam bastante Rum DMC, Public Enemy. O filme Faça a Coisa Certa também entrou na ciranda pra ajudar a confundir.
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1988
Estava ficando famoso na pichação. Essa galera era bem mais democrática. Rolava de tudo: funk, punk, junk, yunk… No mesmo ano do filme Colors, caminhava pelo Centro de Caxias quando passei no sebo do Pará e ouvi aquele mesmo som do Ice T, só que cantado em português. Era o disco “Hip hop, cultura de rua”. Perguntei ao Pará que disco era aquele e ele não sabia responder. Levei a bolacha pra casa e a partir daquele dia percebi que também poderia cantar.
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1989
Parei de pichar. O terror da maioridade se aproximava e estava vendo vários amigos não conseguirem parar e acabarem na cadeia. Aproveitei as festas juninas para dar um tempo. Dois meses depois voltaria, mas o afastamento da galera me ajudou a não voltar mais. Já estava quase de maior.
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