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2 de nov. de 2010

ouro de tolo

Queria que minha idéias fossem de ouro...


Meu sonho de consumo está se transformando em realidade agora que vejo essa placa:
"compra -se ouro de tolo"

Fui lá e bati na porta dourada...

Nem bem a recepção anunciara minha chegada, vi um membro da tropa de batedores metálicos com espadas de ouro, marchando em minha direção. Eram as estátuas de ouro mais brilhantes que já vi, reconhecendo o terreno. Percebi que nem minha melhor letra de rap boca-de-sino-de ouro, nem minha melhor frase justa ou o meio tubo de prata liquida que gastei iriam ajudar. O negócio era apelar e me identificar.

"Qual o seu nome?" - começou o interrogatório. "Slow", respondi como se perguntasse se gostou. Eles(os metálicos) eram judeus e achei que a terminação "ow" do sobrenome materno iria soar mais familiar naquela hora do quebra-gelo-ouro. Felizmente o reconhecimento da estátua chegou antes da espada-tira-cabeças que ela trazia a tira colo . Teria ficado evidente que meu estratagema de tentar parecer judeu tinha a solidez de uma geléia.

Pessoas também costumam usar de estratagemas para parecerem o que não são. E a tecnologia tem ajudado. Antigamente era preciso investimento para se criar uma imagem respeitável. Sede própria, catálogos impressos, telefonistas, assessoria de imprensa, publicidade. Ficar conhecido no bairro já custava caro. Visto no mundo, impensável.

Sonho/pesadelo - E hoje? Bem, com a tecnologia da informação ficou fácil trabalhar em casa. Qualquer um pode imprimir catálogos com qualidade fotográfica, ter uma telefonista digital, fachada na Internet e recursos de comunicação para falar até com Montezuma ou Tegucigalpa. Com pouco investimento é possível criar uma empresa que é um sonho dourado. Literalmente falando.

Ou um pesadelo, realmente falando. Se a tecnologia esticou a perna dos negócios, também encurtou a perna da mentira. Ela agora tem perna mais curta. Pessoas têm igual poder tecnológico para recomendar ou arrasar. Só que multiplicado pelo número dos que forem ludibriados.

Credibilidade é fruto de habilidade edificada sobre o alicerce da verdade. Quando escrevo, gravo , ensino , pinto ou improviso, e coloco no mundo para todo o mundo ver quero conhecer que lastro de realidade existe por trás da visão. Meu avô já dizia que nem tudo que reluz é ouro e nem todo sapato é de couro. Se eu não ficar emocionado, será que consigo emocionar alguém ?

Quando jovem, trabalhei em vendas para uma corja de mercenários de catálogos de artefatos de ouro de tolo, que estava visivelmente ultrapassado. As fotos eram de pessoas da década de quarenta, mas eu não era tão velho assim. Nem a empresa.

Descobri depois que era tudo forjado, até a foto da fábrica dourada, que nunca existiu. Solidez e tradição, só na aparência.

Alguém poderia chamar isso de marketing, mas não é. O verdadeiro marketing procura dourar, não a pílula da ilusão, mas os resultados de uma solução. Cria valor. Em minha arte maluca corro esse risco de parecer o que não sou. Por me valer das letras, da música ,da escrita ,da oratória e da tecnologia da informação, há quem pense que sei mais do que conheço. A tentação de me deixar embalar nesse regaço é grande, e às vezes me pego cofiando a barba de uma sabedoria emprestada.

É, além espada, ela tinha um detector de mentira. Meninos Dourados (Murphi)e Golden Axes, só no cinema ou nos games. Na vida real elas te espetam...

OUROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO...


Faler em barba, estou com minha barba por fazer. Cujos pêlos, vistos de perto, tem crescido nas mais impossíveis direções. Estratagema denunciado pela máquina detectora da estátua, que descobriu minha falsa barba consistuída duma mistura de ouro em pó , pó e pó de barba retirado do barbeador do pai. Segundo um amigo com peso de ouro, entrar no Forte Inox com aquele disfarce era uma barbada. Acreditei.

E você acreditaria se eu dissesse que a estátua era igual aquela a estátua feita em ouro para homenagear Kate Moss??


Ela transpirava poesia. Seus olhos verdes brilhavam com o colírio da emoção. Sua pele, qual nuvem flagrada por tentar esconder o sol de uma montanha de ouro, denunciava um rubor só comparado à cor da sua espada. E quando falava... Ah!

Aliás, foi o que ela mais fez. Falou a tarde toda de um tal fulano que conhecera uns dias antes nun lugar chamado Eldorado e a pedira em namoro. O que eu achava? Sugeri que aceitasse. Devia ser um cara legal.
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