Tirei o boné...
Arrumei os cachos como cachoeira negra que se aninha entre as pedras...
dobrei o casaco puído e a camiseta com peixinho medroso...
Pus o jeans azul de serenidade e uma blusa laranja como que para reavivar meus olhos cansados de percorrer o mesmo rio de lamentos...
deixei meus pés livres e segui rumo à sala escura...
poltronas razoavelmente confortáveis, luz aconchegante a ponto de não me sentir intimidada, palco visível e palpável como que num ensaio de meus futuros cantarolejos...
vendo música, vendo vozes...e sentindo o palpitar de meu peito pulsando e paralisando pensamentos apavorados de pólvora...
Era o segundo dia consecutivo em que o via...
seu olhar já havia me despido e sua boca, sussurrado minha sentença: serás minha para sempre...minha amada, minha querida... com os olhos ele dizia...
esperei com cautela...
as luzes se acenderam e enfim, saímos...
De tantas andanças, o mundo parecia saber o poder que juntos teríamos...e todos exasperados começavam a nos afastar porque a luz que juntos emitimos era (e é) muito forte...
até que enfim, nos beijamos...e nesse beijo imaginei-me no mundo de Verne e Stevenson onde tudo é possível e de tirar o fôlego...
trôpega por alguns segundos...olhei seus olhos e descobri: a parte da minha alma que ainda não tinha visto...a luz dos olhos dele me mostrou...as asas de borboleta que não via em meu casulo escuro...
me entreguei ao Sol...
Pois é, tirei o boné!
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