A HISTÓRIA DO HIP HOP
Na
Jamaica, uma das culturas mais antigas de sua música é o Sound System,
um sistema de som que consiste em grandes caixas de som, muitos discos,
um deejay. Deejay esse é o nome dado ao mc na Jamaica, como na época os
locures das rádios eram chamados de "dj" de disc jockey e esses mc's
falavam no microfone os nomes das músicas, nos espaços entre um disco e
outro e também faziam alguns "cacos" (improvisações) entre um verso e
outro nas músicas. E o principal era muita gente na rua, se divertindo
ao som dos discos compactos sete polegadas e comprando um bebendo,
comendo e curtindo. Essa é a essência do Sound System em qualquer lugar
do mundo.
Mas diferente do que muitos dizem
nessa época não se tocava reggae e sim o Blues, R&B e Soul
americano e ganhava o público quem tivesse mais discos vindos dos EUA.
Um
dos primeiros nomes a ficar em evidencia com as Sound System’s na
Jamaica foram Clement Seymour “Sir Coxsone” Dodd (1932-2004) fundador da
gravadora e estúdio Studio One e Duke Reid fundador do estúdio Treasure
Isle e da gravadora Trojan, historicamente esses são os dois mais
importantes sound systems e gravadoras jamaicanas. Coxsone e Duke Reid
competiram por algum tempo fazendo “batalhas de sound systems”, os
famosos sound clashs.
Muitos falam
que Duke foi coroado o rei das sounds no final dos anos 50, duvidosa
informação, comparar dois trabalhos de tanta qualidade e grandeza é um
tanto complicado. Falaremos muito mais sobre esses dois ícones do sound
system e do reggae logo mais, mas por agora falaremos sobre a herança
que esses dois deixaram nos tempos de hoje como grandes influências no
formato das festas, o hip hop.
Os
primeiros MC’s (mestres de cerimônia) ou deejays com certeza foram Count
Machuki, King Stitt que eram realmente Mestres de Cerimônia.
Posteriormente vieram U Roy, I Roy, Early B, Welton Irie, Ranking Joe
dentre outros, a técnica do Toasting é muito semelhante ao Freestyle no
Hip Hop, nota-se pela métrica compassada na caixa e no contratempo da
música. Um dos primeiros Jamaicanos a realmente tentar fazer a junção
reggae e hip hop foi Shinehead no início dos anos 80, só que sem muito
sucesso de vendas, talvez por ser uma música muito mais underground e de
pouca assimilação no mercado Americano - devido ao patois, do que todo o
restante do material lançado por eles.
Voltando
a Jamaica, no inicio da década de 60, com a larga migração de
jamaicanos para diversos países do novo e velho continente, como a
Inglaterra principalmente, Alemanha, Estados Unidos, já era de se
imaginar que toda a influência do ritmo e da cultura jamaicana migrasse
também para esses lugares, com os discos, caixas de som e música, muita
música com o volume bem alto.
E
como nada se cria do vazio, do nada, e sempre tem alguém que começa a
brincadeira, segue abaixo uma pequena biografia do cara que trouxe a
sound system de volta para os Estados Unidos, e gerou uma nova Cultura
que mudaria o rumo e a vida de muita gente chamada Hip Hop;
Kool
Herc
DJ KOOL HERC... batizado como Clive Campbel, se mudou da Jamaica
em 1967 com 12 anos de idade, se alojou no Bronx em New York. Seis anos
depois, em 1973 sua irmã lhe perguntou se não queria tocar como DJ em
uma festa de aniversario num lugar chamado Twillight Zone. Esta foi à
primeira festa dele. Herc era o cara que fazia a parte do deejay
Jamaicano, o toasting, falando e rimando sobre os instrumentais dos
discos, e se tornou famoso por fazer isso no Bronx. Ficou conhecido por
ter o maior sound system móvel em New York.
Ele pegou um trecho de uma
música de James Brown “Give it u por turn it loose” e complementou com
“Hip Hop and don’t stop” e com coisas do gênero, daí saiu o termo Hip
Hop. Herc foi o primeiro (após Pete DJ Jones) a colocar duas cópias do
mesmo disco e manipular as duas, fazendo com que a batida tocasse
continuamente.
Juntamente com Klark Kent, Coke La Rock e Timmy Tim (The
Herculords), Herc tocou em lugares como The Pal, Celeb CLub, Stardust
Ballroom, Hoe Ave Boys Club, Harlem World e Black Door, lugares de alto
prestigio na época.
Ele é parte da trindade do Hip Hop, juntamente com
África Bambaata e Grandmaster Flash. Sua voz foi gravada pela primeira
vez na música Wack Rap pelo selo Wackies de Lloyd Burnes em 1979, e fez
uma aparição cantando no disco do Terminator X “Godfathers of Threatt”.
Herc também teve uma pequena participação no filme Beat Street. Ele pode
ser visto na capa do disco do Executioners, “Built From Scratch” com DST & Theodore.
As Block Party´s
No
início dos anos 70 se deu início as Block Party’s*, famosas festas de
quarteirão que surgiram com o mesmo intuito das sounds system’s
jamaicanas, mas com um algo a mais, os Black Panthers usavam essas
festas para atrair pessoas nos bairros pobres e aproveitavam para fazer
palestras e manifestos antes dos dj's.
O esquema era
fechar uma rua e colocar um sistema de som pra tocar até de manhã,
puxavam a luz de um poste numa “gambiarra” direta e reuniam todos do
bairro, a única diferença é que não se tocava o reggae jamaicano,
tocava-se Funk (quando cito o Funk falo de James Brown, George Clinton,
Bootsy Collins entre outros), Jazz, Soul, o Break Beat.
Um
adendo, a métrica dos mc's e o termo RAP não veio da Jamaica, um grupo
afrocêntrico de NY chamado The Last Poets (que incluia Gil Scott-Heron)
foram os pais da poesia sobre o ritmo. Eram um grupo de percussão e a
poesia era realmente de protesto social e critica sobre o ostracismo da
comunidade negra numa época em que o racismo e a política contra os
negros crescia absurdamente nos EUA.
Em
pouco tempo já se usava dois toca discos, e o MC já era figura central
nas festas, os DJ’s* já tinham uma técnica bem diferente dos Selectas
jamaicanos, utilizavam dois discos, fazendo Back to Back, Scratchs e
Cuts, mantinham uma frase da música repetidamente enquanto o MC agitava o
povo rimando. Com o passar do tempo se criaram Crews, pessoas que se
juntavam para fazer as batalhas de rimas, Crews de B.Boys disputavam
qual a que tinha a melhor performance na noite.
Muito
disso pode ser visto em alguns vídeos como o Zulu Nation, Wild Style
entre outros, este último um clássico que mostra todos os elementos do
Hip Hop.
Hoje,
existe um evento muito importante nos Estados Unidos, o Black August,
que relembra muito as origens do Hip Hop. Músicos com letras muito mais
conscientes e inteligentes, e menos ostentação como muitos fazem no RAP
hoje em dia.
*Dj
é a denominação de selectah nos Estados Unidos, por incrível que
pareça, os americanos substituíram o nome de selectah devido aos Disc
Jockeys da rádio, sim, aqueles que colocavam os discos na rádio se
tornaram djs, de certa forma há considerável semelhança. Hoje Dj se
tornou uma denominação para a pessoa que tem mais técnica no manuseio do
vinil nos toca discos, e se denomina selectah aquele que escolhe as
músicas que serão tocadas no sound system, necessariamente em alguns
casos o selectah não é quem toca os discos, é quem escolhe realmente.
Os Elementos
A cultura Hip Hop é responsável por varias formas de expressões
artísticas, que são chamados de Elementos, o MC que faz o rap, o
Grafiteiro que faz a parte gráfica, o DJ que toca a música, e a Dança
que tem suas variações nas formas do Breaking, Up-Rocking, Popping, e
Locking, e o 5º Elemento que faz com que todos os outros fiquem juntos, o
Conhecimento.
Alguns
outros elementos também fazem parte do Hip Hop, mas não são tão
reconhecidos pelos que não tem tanto apego à Cultura; o Beat Box, as
roupas, o comportamento, o empreenderismo...
Com o passar do tempo o rap
se tornou uma coisa um tanto prejudicial à Cultura Hip Hop, já que
alguns segregaram o restante dos elementos, donos de gravadora, rappers
que ostentam dinheiro, mulheres e mansões ficaram em primeiro plano no
cenário da música, excluindo boa parte do trabalho social e cultural que
acontece no Hip Hop.
Já que a intenção é falar do hip hop em si, e não
para onde e como ele vai seguir daqui pra frente, não vou me estender
muito para não falar muito mal da cena rap, tanto sobre os rappers
americanos, europeus, e alguns brasileiros também. Termino esse texto
com uma frase do Templo do HIP HOP.
Rap é uma coisa que você faz, Hip Hop é uma coisa que você vive.
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