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19 de abr. de 2011

POESIA PRA VC

A POESIA

Onde está
a poesia? Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.

Cientistas esquartejam Puchkin e Baudelaire.
Exegetas desmontam a máquina da linguagem.
A poesia ri.

Baixa-se uma portaria: é proibido
misturar o poema com Ipanema.
O poeta depõe no inquérito:
Meu poema é puro, flor
Sem haste, juro!

Não tem passado nem futuro.
Não sabe a fel nem sabe a mel:
É de papel.

Não é como a açucena
Que efêmera
Passa.
E não está sujeito a traça
Pois tem a proteção do inseticida.
Creia,
O meu poema está infenso à vida.

Claro, a vida é suja, a vida é dura.
E sobretudo insegura:

“Suspeito de atividades subversivas foi detido ontem
o poeta Casimiro de Abreu.”

“A Fábrica de Fiação Camboa abriu falência e deixou
sem emprego uma centena de operários.”

“A adúltera Rosa Gonçalves, depondo na 3ª Vara de Família,
afirmou descaradamente: ‘Traí ele, sim. O amor acaba, seu juiz.’”

O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou

Era pouco? era muito?
........Era uma fome azul e navalha
........uma vertigem de cabelos dentes
........cheiros que traspassam o metal
........e me impedem de viver ainda
Era pouco? Era louco,.um mergulho
no fundo de tua seda aberta em flor embaixo.onde eu morria

Branca e verde
branca e verde
branca branca branca branca
E agora
recostada no divã da sala
..........depois de tudo
..........a poesia ri de mim

Ih, é preciso arrumar a casa
que André vai chegar
É preciso preparar o jantar
É preciso ir buscar o menino no colégio
lavar a roupa limpar a vidraça
O amor
(era muito? era pouco?
era calmo? era louco?)
passa
A infância
passa
a ambulância
passa
..............Só não passa, Ingrácia,
..............A tua grácia!

E pensar que nunca mais a terei
real e efêmera (na penumbra da tarde)
como a primavera.
...............E pensar
que ela também vai se juntar
ao esqueleto das noites estreladas
..............e dos perfumes
..............que dentro de mim gravitam
..............feito pó
(e um dia, claro,ao acender um cigarro
talvez se deflagre com o fogo do fósforo seu sorriso
entre meus dedos. E só).

Poesia – deter a vida com palavras?
Não – libertá-la,
fazê-la voz e fogo em nossa voz. Poesia – falar o dia
acendê-lo do pó
abri-lo
como carne em cada sílaba, de-
flagrá-lo
..............como bala em cada não
..............como arma em cada mão

...............E súbito da calçada sobe
...............e explode
...............junto ao meu rosto o pás-
...............saro? O pás
...............?
Como chamá-lo? Pombo? Bomba? Prombo? Como?
Ele bicava o chão há pouco era um pombo mas
súbito explode em ajas brulhos zules bulha zalas
e foge!
como chamá-lo? Pombo?
Não:
............poesia
............paixão
............revolução

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