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10 de jan. de 2011

a origem!!!

A ciência por trás do filme A Origem

Neurocientista explica quais são os erros e acertos científicos da produção estrelada por Leonardo DiCaprio

Sidarta Ribeiro*
*Sidarta Ribeiro é doutor em neurociências pela Universidade Rockefeller (2000), chefe de laboratório do Instituto Internacional de Neurociência de Natal (IINN-ELS), professor de Neurociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pesquisador do Instituto de Ensino e Pesquisas do Hospital Sírio Libanês e pesquisador-colaborador da Universidade Duke (EUA).
Cena do filme A Origem

Eu assisti este filme ao lado da Bela Psiqué que é quase psicologa e fiquei impressionado , inclusive a minha futura sogra sonhou com ess filme , mesmo sem ter visto o filme inteiro!!!

As camadas dos sonhos representadas podem ser interpretadas como influências da psicanálise. Um dos trabalhos mais conhecidos do Freud é exatamente o "Interpretação dos Sonhos", de 1900.

Além disso, há uma metáfora visual recorrente no filme, que utiliza a noção de "culpa" pra localizar a função de uma personagem-chave da trama (que, obviamente, não vou detalhar aqui, pra não estragar o lance de quem ainda não viu). Entretanto, dá pra dizer que a culpa é outra noção cara à psicanálise e que surge no filme.

Cheguei à mesma conclusão: o único pecado do filme é exercitar o imaginário de uma forma exageradamente barulhenta. Típica das produções estilo Hollywood, que tentam mesclar a arte com os chamados "efeitos especiais tecnológicos".

Isso não apaga o fato de ser uma boa trama. Mas é bom citar a distinção, porque os melhores filmes da história são, concordamos, aqueles que conseguiram exercitar a ilusão e a riqueza metafórica de uma forma sutil.

É como dizia o poeta Mallarmé, no Simbolismo: "sugerir, eis o sonho". E eis a questão.

"A Origem é uma condensação vertiginosa de cem anos de psicanálise, neurobiologia, filosofia e cinema"

A Origem é um filme desafiador. Num mundo não muito distante do nosso, em que existe tecnologia para invadir sonhos é realidade, um espião altamente capacitado tem sua chance final de redenção condicionada à realização de uma missão impossível: implantar uma idéia estranha na mente de uma pessoa, capaz de levá-la a fazer algo que não quer.

Na superfície, trata-se de um barulhento filme de ação típico de Hollywood, com tiros, perseguições de carros e muitas explosões. Na profundeza, é uma condensação vertiginosa de cem anos de psicanálise, neurobiologia, filosofia e cinema. Cientificamente, acerta um tanto e erra outro tanto.

O filme é composto de cinco narrativas, uma dentro da outra, articuladas em diferentes velocidades temporais com uma clareza desconcertante. Além do protagonista, cinco personagens adentram o sonho da vítima do golpe, para ajudar na difícil tarefa de semear o germe de uma ideia indesejada.

Atuando de forma coordenada, tentam convencer a vítima a descer mais e mais profundamente, passando de um sonho a outro, até um local em que a ideia estrangeira possa ser plantada com sucesso.

Indução — Voltando para o mundo real (real em termos, já que a ciência não tem como provar que não estamos sonhando), com a tecnologia atual é possível induzir uma pessoa ao sono. Fazer a mesma pessoa sonhar é mais difícil. Substâncias precursoras de dopamina e acetilcolina afetam o sonho.

O DMT (Dimetiltriptamina, uma substância psicodélica), contido na Ayahuasca, gera padrões de ativação cerebral e de experiência psicológica semelhantes aos observados durante o sonho. Mas os estudos ainda são incipientes.

Cientificamente é possível sonhar que se está sonhando, como muitos de vocês já devem ter experimentado e como acontece no filme. Mas ninguém sabe ao certo quantas camadas um sonho pode ter. Talvez milhares, talvez apenas duas ou três. Também não há dados sólidos a respeito.

Invasão — Em A Origem, tudo acontece como se a tecnologia para fazer o implante fosse algo já estabelecido. Fora das telas, nada disso existe. Para realizar a invasão de sonhos seria necessário decodificar o sonho a ser invadido e ser capaz de inserir conteúdo novo nele, não próprio do sonhador original. A primeira parte talvez seja possível em um futuro não muito distante, a segunda parece mais difícil.

No que diz respeito à decodificação, nos últimos anos foram publicados artigos mostrando que é possível descobrir o que a pessoa está imaginando através da análise da ativação do córtex visual. Existe um truque aí, porque antes de fazer o experimento de "leitura de mentes", a pessoa é submetida a uma bateria de imagens visuais, e sua ativação no córtex visual é gravada, gerando um mapa de possíveis estados que depois serve de base para a codificação de imagens novas, ainda não apresentadas ao sujeito.

Com ou sem truque, é uma façanha e tanto. No que diz respeito à invasão, nossa tecnologia para estimular o cérebro com eletricidade ou campo magnético ainda é muito grosseira para se pensar em causar imagens específicas numa pessoa.

Enquanto no filme o equipamento necessário para entrar nos sonhos cabe em uma maleta, os aparelhos atualmente existentes que permitem ver um cérebro sonhando são uma combinação de magnetoencefalografia (bem mais poderosa do que a eletroencefalografia comum) e ressonância magnética funcional.

São técnicas que requerem o uso de aparelhos enormes, do tamanho de um carro cada, caríssimos. Mesmo eles não resolveriam o problema, esbarraríamos nas limitações citadas acima, mas pelo menos seria o melhor possível.


O ator Leonardo di Caprio, em cena do filme 'A Origem'

Ritmo acelerado — Uma vez dentro do sonho, o filme mostra que a cada camada o tempo passa mais devagar: um segundo no mundo dos acordados significa cinco minutos na primeira camada de sonho, duas horas na segunda, e assim por diante. Ponto para o filme. Existem algumas evidências em ratos de que a compressão temporal do processamento neuronal varia conforme as diferentes fases do sono.

O resto é a imaginação de Christopher Nolan, o diretor do filme. Mas ele chega perto quando define a morte, dentro do sonho, como uma das formas para despertar. É muito difícil que as pessoas sonhem com a própria morte, embora algumas afirmem ter sonhos assim. No caso de A Origem, como acontece com a maioria das pessoas, morrer faz com que a pessoa acorde.

O filme também acerta em mostrar pessoas que sabem que estão dentro de um sonho, como os agentes contratados para implantar as ideias. Quando começamos a perceber que estamos sonhando, há quem consiga permanecer nesse estado sem despertar ou regressar para o sonho comum, equilibrando-se entre o espanto e a inconsciência. Se torna um sonhador lúcido, capaz de criar o enredo onírico com sua própria vontade, simulando o que quiser.

Chuva onírica — A perturbação do sonho através da interferência sensorial - como a cena em que chove porque o dono do sonho está com vontade de ir ao banheiro - tem base científica. Como notou Freud, estímulos externos entram no sonho e são ressignificados, de forma que "o sonho protege o sono". Isso ocorre até um certo ponto, além do qual a pessoa acorda.

O mais interessante em “A Origem” é como o personagem principal enfrenta a impossibilidade de ter certeza sobre os limites da realidade. O desejo é motor do sonho, e o sonho não cessa. Repressão de memórias e loucura se entrelaçam, seguindo o fio condutor das idéias de Freud. Mas o espectador é levado ainda mais longe, saltando por cima das divergências acadêmicas no campo das psicologias e das neurociências para interrogar de modo incisivo, equipado com tudo que sabemos, qual é a arquitetura última da mente. Nada mal para um blockbuster.

A Origem

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um habilidoso ladrão, o melhor na perigosa arte da extração, o roubo de segredos valiosos das profundezas do inconsciente durante o sono com sonhos , quando a mente está mais vulnerável.

A rara habilidade de Cobb o tornou peça fundamental no traiçoeiro mundo da espionagem industrial, mas também o tornou um fugitivo internacional e ele perdeu tudo o que mais amava. Agora, Cobb tem sua chance de redenção, um último trabalho que pode dar-lhe sua vida de volta se ele conseguir o impossível - inserção.

Ao invés do roubo perfeito, Cobb e sua equipe de especialistas têm que obter o inverso: sua tarefa não é roubar uma ideia, mas plantar uma. Se eles conseguirem, terão o crime perfeito. Mas nem todo seu planejamento poderia prepará-los para um perigoso inimigo que parece prever cada movimento da equipe. Um inimigo que apenas Codd consegue enfrentar.

Conselho Slowniano :

Enfrente-se!!!


Um comentário:

  1. É um texto com informações bastante pertinentes àqueles que viram e aos que não assistiram ao filme tb. A divisa entre Psiquiatria, Psicologia Cognitiva e Neurociência, às vezes, fica um tanto difusa (o que é compreensível em uma área de interfaces)...

    O filme é muito bem construído (levou 10 anos para ser maturado!) e permite uma contribuição não apenas cinematográfica, mas de conteúdo além da arte. Isso é louvável, e me parece que contribui para elevar a obra ao patamar das 'grandes' produções!

    Blog deveras interessante, by the way!

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