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15 de set. de 2010

Os cabras se encontram

Os cabras se encontram


Um encontro histórico foi presenciado ontem por este que vos escreve na Mostra Faróis na Caixa Cultural, logo em seguida à sessão de 18h30 de Cabra Marcado para Morrer.


Salvo por uma única oportunidade na década de 1980, na Universidade de Brasília, Eduardo Coutinho e Vladimir Carvalho nunca se sentaram juntos numa mesa para conversar sobre seus filmes e suas admirações no cinema.

E razões não faltavam para que isso já houvesse acontecido muitas vezes.Eu sei que esta terça feira estava muito morna e lá estava eu no largo da carioca com uma cambada de gringos sul americanos (Bolivianos e Colombianos) quando toca meu celular vermelho e escuto do outro lado da linha :

"E ai Slow , aqui é o HB , tá de bobeira ? Vamos ver um dos maiores documentários Brasileiros ?"

Um telefonema do mestre HB é sempre assim , inesperado e poético...

"Demoro"

Foi o máximo que disse...

Fui sem saber direito qual filme e me surpreendi com as coisas contidas neles quase que assombrosas:

1- grande parte do filme é feito na Paraíba , terra de minha família por parte materna e meu avo foi membro de uma dessa ligas camponesas que se fala muito no filme...

2- uma das filhas dele vai para na cidade que hoje resido , a famigerada Duque de Caxias...

3- um dos filhos dele vai para em Cuba , onde estive a pouco tempo...



O filme é uma narrativa semidocumental da vida de João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba, assassinado em 1962. Foi interrompido em 1964, em razão do golpe militar e recomeçado 17 anos depois, recolhendo os depoimentos dos camponeses que trabalharam nas primeiras filmagens.

Conta a história das Ligas camponesas de Galiléia e de Sapé e a vida de João Pedro através das palavras de sua viúva, Elizabeth Teixeira, que conta sobre a sua vida nesses vinte anos, assim como a de seus filhos, separados dela desde Dezembro de 1964.

Principais prêmios e indicações

Festival de Berlim 1985 (Berlim/Alemanha)

Recebeu os prêmios FIPRESCI e Interfilm do Fórum de Cinema Jovem.


FesTróia - Festival Internacional de Cinema de Tróia 1985 (Setúbal/Portugal)

Recebeu o Golfinho de Ouro.

Festival do Novo Cinema Latino-americano 1984 (Havana/Cuba)

Recebeu o Prêmio Coral na categoria de Melhor Documentário.


FestRio 1984 (Rio de Janeiro/RJ)

Recebeu o Tucano de Ouro na categoria de Melhor Filme
Prêmio da Crítica
Prêmio OCIC (Ofício Católico Internacional de Cinema)
Prêmio D. Quixote da FICC (Festival Internacional de Cinema).

Festival do Cinema Brasileiro de Gramado 1985 (Gramado/RS)

Recebeu o prêmio Hours Concours.

Festival de Cine Realidade
1985 (Paris/França)

Recebeu o Grande Prêmio.


A melhor parte foi que depois do filme e das lágrimas ainda rolou um debate com o Cara e ainda de lambuja o Vladimir Carvalho...


Vladimir e Coutinho certamente estão entre os cinco maiores cineastas da história do cinema brasileiro – e mais seguramente ainda entre os cinco principais documentaristas.

O caminho deles se cruzou pela primeira vez no ano de 1964, quando seu conhecimento do sertão nordestino e do líder camponês João Pedro Teixeira levou Vladimir a ser convidado por Coutinho para auxiliar na produção de Cabra Marcado para Morrer em sua primeira versão.

Nas imagens finalmente montadas do Cabra em 1981, lá está a figura do jovem Vladimir batendo uma claquete na janela do casebre de Dona Elisabeth Teixeira.

Quando os militares tomaram o poder e o risco se avolumou para a equipe de filmagem do primeiro Cabra, Vladimir ficou encarregado de dar fuga a Dona Elisabeth, numa história rocambolesca contada no livro Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no PlanaltoCabra é hoje um dos filmes-faróis de Vladimir, enquanto o seu O País de São Saruê é farol de outros tantos documentaristas brasileiros.

Participarão da mesa também o crítico Carlos Alberto Mattos, curador da Mostra, e Diego de Angeli, aluno de cinema da PUC.


Há quem pense que Eduardo Coutinho está desenhando uma inflexão de rumo em sua obra que vai levá-lo de volta à fi cção. Depois de Jogo de Cena e Moscou, a proximidade com o teatro e a representação o colocam numa fronteira estimulante, a partir da qual tudo se pode esperar.

Coutinho consagrou-se algumas vezes em sua carreira.
Primeiro, com Cabra Marcado para Morrer, um marco do documentário brasileiro.
Depois, com a retomada do percurso a partir de Santo Forte (1997).
Mais adiante, com o exercício enredante de Jogo de Cena.

No entanto, bem antes de cair na real, Coutinho surfava na dramaturgia inventada. E também no teatro. Um de seus primeiros trabalhos foi dirigir uma montagem da peça Pluft, o Fantasminha
em Paris. Foi assistente de direção de Amir Haddad e por pouco não dirigiu o segundo longa do CPC, baseando-se em poemas sociais de João Cabral de Mello Neto.

Coutinho assegura que o exercício da ficção ensinou-lhe a detectar o teor ficcional dos documentários, uma espécie de dramaturgia difusa que responde pelo fascínio de fi lmes como Edifício Master e O Fim e o Princípio.

Nos cinco títulos apontados como seus faróis, não é de]surpreender que três sejam de ficção.
E com lugar até para faroeste de John Wayne.
Ao lado, a transcrição literal do seu texto datilografado e enviado por fax.

É como se o ouvíssemos falando:

“Filmes, sem faróis. Primeira impressão – choque pós. Em geral, sem revisão (desilusão? ou não). Sem ordem de preferência (ou choque)

1. Shoah, de Claude Lanzmann, 1983, quando vi. Diretor de um só filme, provavelmente (que preste). Se julga dono do assunto, Holocausto, impõe regras. Deve ser um chato. Mas o filme é extraordinário. Tudo no presente, sem arquivos. Importância do mecanismo de morte no atacado: problemas de gestão industrial. Nove horas de duração. Sofrimento e recompensa.

2. A Morte de Empédocles, do (Jean-Marie) Straub (e Danièle Huillet). Visto na Cinemateca do MAM. Som direto, colinas do Sul da Itália, atores vestidos a caráter, texto clássico (Hölderlin). Sem voz off. Palavras, vento. Tragédia seca, esta sim.

3. Faces, (de John) Cassavetes. Visto em 1968. Deslumbramento. Revisto 15 anos depois. Impossível corresponder à primeira impressão, filme recriado na cabeça, impossível. Quando vir pela terceira vez, creio que o filme aguenta e crescerá.

4. As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty (checar o título) , de Jonas Mekas. Visto em VHS, péssimo estado, em Buenos Aires, há alguns anos. Filme-diário para acabar com os filmes-diário. Testamento, final do último milênio. Nada acontece. Letreiros. Piano e a voz do Mekas reportando-se ao passado das imagens. Nenhum som direto. Planos de 2, 5 segundos. Câmara não para. Luz e focos pras picas. Dura quase cinco horas, acho – tem que ser visto inteiro, de uma vez – se você aguentar. Tempo que passa, passou.

5. Rio Bravo, de Howard Hawks. Visto em 1959, por aí. A elegância das pessoas (homens) que andam. Se mexem. Gestos. Andam. Vivem. Uma escarradeira. Cinema clássico, além dele.

Nota – Escrito, sem revisão, em 5 minutos. Olivetti, lettera 22.”


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slowdabf ta rimando e esta no:
http://tododiaumtextonovo.blogspot.com

Um comentário:

  1. Putz, foi foda demais esse dia, né?…
    além de assistir ao Cabra pela muitésima vez e me emocionar sempre, o bate-papo entre os dois foi um momento inesquecível.
    e fiquei felizão de ter levado vc e bia pra assistirem.

    e uma coisa que num tinha reparado até então: a Elizabeth Teixeira na época da primeira filmagem é a cara da Ivana Bentes. :D

    abraço!
    @heraldohb

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