Segundo dia do ano, pelo menos no nosso lado do planeta e de acordo com o calendário cristão atual e já estamos trabalhando...
Esse texto a baixo já foi escrito 1 vez e hoje ele chega aqui, um pouco modificado .
197...
O ano é 2000 e alguma coisa e 30 e poucos anos se passaram pra mim e pouco mais tem o hip-hop quando falamos do hip-hop mais organizado mas sabemos que essa linha é tênue e por vezes elástica, fatos, pessoas e pensamentos foram antecessores destas datas mais antigas que conhecemos...
Os anos 50 e 60 fizeram alicerces para essa cultura que hoje é mundialmente conhecida, por ex: o DJ Kool Herc tocava vários sons diferentes naquela época "Comanche " do Trio Mocotó e "Bronx nation athen" dos Bongo Bands incluindo nesse contexto varias vertentes musicais, como o nosso bom e velho samba que também influenciou Quincy Jones e Marvin Gaye, o disco Soul Bossa Nova mostra isso:
Paul Huphrey, grandioso baterista diz :
"Quando Gaye fez "what´s going on", ele usava a batida de samba invertida e isso mudou o jeito de fazer percussão e tocar bateria nos E.U.A."
Ou seja, ritmos como samba, bossa nova reggae, soul, rumba, merengue, influenciaram muito oque chamamos de hip-hop porque a rumba influenciou o modo como o breaking era dançado por latinos e teve total influencia nos primeiros top rocks pois a rumba imperava no Bronx antes do hip-hop ser a febre local e uma infinidades de coisas aconteceram ,antes mesmo do termo hip-hop ser inventado.
Aqui no Brasil, os bailes eram chamados de hi-fi e gente como Mr. Funk Santos, Dom Filó, Paulão Black Power faziam o que os Sound Systems faziam na Jamaica:
música na rua, nos guetos, clubes ou seja no subúrbio...
Equipes como : 1 mente numa boa, makesom, célula negra, tropa bagunça, movimentaram o esqueleto dos "blacks" do rio de janeiro, assim como Kool Herc e Bambattaa na sua época...
Por falar em Bambattaa, ele mesmo deu a formula de como uma cultura se expande rapidamente
"Se eu conheço uma coisa nova hoje , amanhã tenho que ensinar a outro e assim a coisa vai se espalhando...O importante é estarmos sempre ensinando para os nossos irmãos oque aprendemos".
No começo as coisas todas eram novas e a historia ia se moldando sem ninguém saber ao certo oque estava acontecendo era a historia sendo feita e dentro dessas historia tinha uma que começou assim:
Grand Wizard Theodore, na Boston Road esquina com a 168, chacoalhou com as regras impostas pela maquina com um gesto,ele resumiu anos de manipulação sonora, uma coisa que reunia as teorias pós musicais de John Cage (o futuro da musica, 1937), as experiencias modernistas do francês Pierre Schaffer, metendo a mão no acetato preto, deformou o som á moda africana, através da percussão...
Ele só tinha 14 anos e não se engane, achando que isso começou, exclusivamente com os negros da cidade de N.Y.
NÃO NÃO NÃO...
A história é bem mais ampla; a Rock Steady Crew era formada quase toda por latinos de pele mais clara, não fazia a mínima diferença a cor da pele isso porque o hip-hop era uma coisa que incentivava a cultura para os menos favorecidos e dentro dessa ótica os negros também.
Quando você vê o filme Wild Style você vê latinos brancos e negros tudo nessa época era voltada para a diversão auto-estima, bondade.
O hip-hop começou assim.
Muitos astros que hoje são reconhecidos como ícones, começaram em áreas diferentes, como Kurtis Blow que desde 1972 vem fazendo barulho foi o primeiro m.c a ganhar disco de ouro em 1980, com a clássica "the breaks" mas era um b-boy e depois começou a cantar assim como vários mcs eram djs ... Ou KRS1 que era grafiteiro, dizia ele que a grande alegria dele era ver um grafittii viajando por toda a cidade, nos trens de N.Y.
Dos primeiros mcs surgiram os primeiros gritos de guerra, os primeiros combates de rimas,as primeiras tretas,no começo da década de 80 o hip-hop já era uma febre no mundo todo,influenciando toda uma geração, misturando - se com outras culturas e dando voz a muita gente sem voz até então.
O rap virou a voz por ex. dos latinos e da cultura Low Rider, que surgiu da pressão racial, social e econômica impostas pelos norte americanos, assim carros velhos e desmontados eram reerguidos pelos chicanos recapturando suas origens com seus símbolos astecas e católicos e enaltecendo as gerações passadas, adotando os z-suits e os droping mustaches dos pachucos e assim foi no México, em Cuba no Japão, Europa, Brasil.
Um DJ japonês chamado Honda disse:
"Muitos seguem o rap dos States mas eu sou um líder, não um seguidor"
Em Cuba onde quase todo mundo é pobre igual, trocaram a agressividade pelo otimismo e a cara feia pelo sorisso, versos pesados por discursos e critica construtiva.
"Se o samba, o rap e o reggae tem lugar em outros países eles serão feitos em Cuba á nossa maneira " diz MC René.
Isso reafirma a raiz. Outro ex. é Tatá de S.P.que disse
"Ja tive proposta pra fazer propaganda pro MC Donald e tal com meu carro, já fui procurado por J Quest, Sandy e Junior pra colocar meu carro em vídeo clips, sempre disse não; Oque que eles tem haver com o Low Rider? "
E assim o hip-hop foi crescendo e logo as empresas e os milionários de plantão começaram a querer uma fatia desse bolo.
Ao contrario da disco que usava roupa de seda e coisas afins os pioneiros se viravam com agasalhos esportivos baratos e iam fazendo a cara, a moda, o life style...
Daí, pra aparecer as grandes marcas foi um pulo, a Fubu (for us by us) começou com 4 manos e a hipoteca de uma casa, a Adidas aliou seu nome ao grupo Run Dmc e de uma marca alemã virou tendencia mundial, hoje o hiphop fala muito de marcas;uma pesquisa feita por uma empresa de consultoria a Agenda inc. e divulgada no site da CNN money, canal de economia da rede CNN, revelou que a Mercedez Benz foi a marca mais citada em 2005, com mais de 100 citações em raps diversos, a Honda japonesa patrocinou uns shows do B.E.P.(que começaram dançando breaking) e um carro apareceu nun dos seus clips.
Falta uma outra pesquisa pra saber se :
1-se há um acordo entre empresas e rappers.
2- se rappers citam sem interesse nenhum.
3- se as empresas pagam pra serem citadas.
Com o crescimento do rap, vários setores se agregaram ao novo conceito até porque essa cultura sempre foi ou deveria sempre ser amplamente democrática e aglutinadora.
Oque faz surgir novas frentes como o Gangsta rap, leia isto:
"Fomos derrotados, aniquilados, pegos de surpresa pela triste separação do rap, hoje oque existe não é o rap no qual eu iniciei o que sobrou foi só um rap bizarro, completamente ignorante, degenerado socialmente, no qual os maiores astros são as armas e o sexo...No meu tempo o rap edificava, trazia informação e cumpria um papel, enquanto música.
Hoje faz com que pensem que somos todos tristes caricaturas de Gangsters...Ridículos aspirantes a bandidos e isso é negativo"
Quem diz isso é o Will Smith e eu assino embaixo falando do brasil.
Quando o gangsta rap surgiu, logo ele consegui dividir as pessoas, uma guerra entre lados começou, uma triste comparação com as gangs e facções e M1 do Dead Prez diz
"O hip hop esta tão maduro que esta apodrecendo, hoje a fruta já brotou, houve um tempo em que não dava pra ver a fruta, só a semente..."
"O hiphop esta morto" diz Nas.
Muitos acham o rap a musica mais decadente do mundo mas a Zulu Nation em suas normas diz que "o hiphop prega a paz, a união, o amor e a diversão visando afastar os jovens, em especial os pobres de tudo oque é negativo, diz Nino Brown da Zulu Nation Brasil.
"Hoje o hip-hop mostra o negro exibindo poder com carros novos, cordão de ouro armas de fogo e nunca com o mais importante a Arma mais poderosa do mundo: o livro" diz Marcelo Yuka!!!
A luta contra o preconceito racial não está tão explicita como já esteve, disse Chuck D :
"Elvis nunca significou nada pra mim e foi um herói pra muitos, o rock foi absorvido e controlado pelos brancos que beberam da fonte negra, mas mantiveram o preconceito, ou seja , sugaram.
Nós, Brasileiros agimos como se o preconceito não existisse, só estamos nos enganando. E isso condiz com o que disse Malcom X :
"Cada homem branco lucra com o racismo mesmo que não pratique ou acredite nele "
O grupo Dilated Peoples sempre enfatizou temas como Guerra, Globalização, Politicas globais e Aniquilações!
Muitos mcs são avessos a moda, contra a bundialização dos videos ao blim blim style como os mcs do islã que falam disso e de Allah!!!! Nomes como Paris e Lakim Shabazz, tem mais a falar sobre coisas relevantes do que só sobre tiros e bundas;
Parte 1 de S.P diz que não aprendeu hip-hop na escola, os discos ensinaram...
Se ele consegui ensinar algo com os dele vai continuar sendo hip hop (como disse Chris Parker)
Outro Morador ilustre de S.P Arcanjo diz:
"Espero que pelo menos 1 pessoa se identifique com moque estou falando, minha musica fala muito de amor esta muito positiva"
197.. Surge um gigante, a mídia e ai padrões começaram a ser impostos e pessoas começaram a se moldar nos padrões o que é perigoso, porque o lucro e a imagem cobraram seu preço, as grandes rádios por serem comerciais não tiveram nem tem compromisso com a cultura hip-hop, muito menos com a musica Rap diz Gil do bocada forte, as rádios aqui no Brasil começaram a cobrar pra tocar a musica dita da periferia isso é o dinheiro corroendo diz Bone Dee!!
Débora Melão (radialista SP) diz que o gangsta rap é o perfil do programa “Espaço rap” e não há espaço pra outro tipo de segmento e diz que 50%da programação é ela que faz e a outra metade é os ouvintes, mas quem escolhe mesmo é ela...
Há também opiniões como a do sambista Ney Lopes que considera o rap, uma coisa da moda, pois, uma musica que não se baseia numa forma brasileira e as formas de expressão para serem revolucionarias tem que ter nelas mesmas um conteúdo de transformação, não basta rimar em cima de um beat.
Quando Bambaataa vislumbrou esse presente, ainda no passado, resolveu instituir um quinto elemento, que separadas as divergências pode ser resumido como a transmissão do conhecimento de forma positiva, ai sim começaram a surgir a didática do hip hop, os workshops, as oficinas mas que segundo Mano Brown de São Paulo "não servem pra nada pois a pessoa tem que nascer com o dom e hiphop não se aprende em oficinas."
E rebatendo essa opinião eu penso que só de colocar uma nova perspectiva aos olhos de um jovem, as oficinas já começam a prestar o seu favor ao hip-hop e a sociedade no geral...
E tem ainda muitas pessoas que fizeram e fazem seus papéis sociais mesmo sendo mundialmente famosas como o grupo Wu Tang Clan que ajuda a Star Light Foundation para jovens com doenças degenerativas... Ou L.L.Cool.J.do Queens que desde 1992 tem a Campcollj Foundation cuidando de mais ou menos 30 jovens...Ou Coolio que dirige a Heritage Foundation produzindo livros para jovens afro – americanos...Ou Lauryn Hill que fundou a Refugee Project, organização pra ajudar crianças pobres.
Outro que deixou um legado, que hoje está nas mãos de sua mãe, foi 2 Pac (1977-1996) que segundo o jornal Dayli News deixou na sua morte um patrimônio de US$ 100.000, um automóvel e um caminhão...SÓ... mas depois de umas boas sindicâncias e auditorias sua família conseguiu da Interscope Records, como parte dos direitos, a bagatela de us$ 5.000.000 ! o que nos leva a criar varias teorias sobre sua vida e sua morte, pois mais livros e cds foram feitos após ele morrer do que quando ele estava vivo colocando no ar perguntas como: existe um trabalho secreto da policia em cima do hip-hop? Uma grande parte dos rappers acredita que sim, essa unidade da policia é real e fatal (maiores informações eu recomendo o documentário Rap Street Hiphop and the Cops ).
Quem matou 2 Pac? e B.I.G?
ninguém sabe ao certo e por falar em Wallace, esse era sinistro mesmo, vendeu 2 milhões na estréia e quebrou um Recorde de 885.000 em uma semana que estava nas mãos dos Beatles.
A mídia quis durante muito tempo dividir o rap em dois lados west e east não conseguiram..
Hoje a parece o lado sul e Snoopy Dogg diz
"Tem tanta merda sendo lançada no Sul que até as merdas tocam...Por serem do Sul simplesmente por que são do Sul...Eles tem feito muita coisa boa mas muita merda toca também" (concordo rsrsrr).
Mas nen tudo é gangsta rap um exemplo quase esquecido foi o rapper Domino da área do Snoopy, em 8 semanas foi disco de ouro (ghetto jam –def jam) falando do gueto sem enfatizar a violência e diz :
“Alguns rappers incentivam a violência e colaboram para o aumento da criminalidade”.
A linda Laurin Hill diz :
“Cresci ouvindo canções que falavam da fraqueza humana, da chuva que esconde minha lagrimas, é o contrario de –eu sou tão bom ,tão forte , tão mal,tão rico ,tão perfeito...
E ganhou entre outros prêmios 4 Mtvs e 4 Grammys e vendeu mais de 15.000.000 de copias.
"Essa postura (inovação)nos afasta da mídia que movimenta o rap, como shows, programas de radio e etc", diz o grupo Pentágono.
E Xis diz que:
"O rap não é pra galeria 24 de maio tem diversos locais que não tem tv a cabo e o que tem é Globo e Sbt, infelizmente, pra muitos sempre fui lá e vagabundo vai sofrer.
Existe um forte discurso entre mídia e resistência mas Rodrigo Brandão, MC do Mamelo Sound System diz :
“Do mesmo jeito que as antenas tem muita importância as raízes também tem e se a árvore não tiver raiz não vai crescer mas ao mesmo tempo se não tiver antena, pra captar as coisas novas, a cultura se torna anacrônica, vai perdendo o beat do tempo... "
Existem 1001 formulas de estar na mídia, recusar a mídia e uma forma eficaz de estar na mídia, abusar da liberdade é outra e tem gente que trabalha no hip-hop nos bastidores em prol das comunidades , como se viu em Beat Street e Krush Groove, é possível deixar a violência e o crime sem deixar as ruas, é possível se tornar um artista expressando experiências próprias, assim como surge a chance de desenvolver uma cultura própria sem necessidades de retoques pra se tornar comercialmente viável.
E ultrapassando o, limite do tempo, artistas como Bussy Bee, Cold Crush Bros, Treachrous 3, Fearlouss 4 e muitos outros estão gravando novos discos e grafiteiros estão fazendo mostras do nível dos maiores pintores clássicos, dançarinos como Sugar Pop, Poppin Taco, Shabadoo, Boogaloo Shrimp estão ai dançando e recebendo homenagens.
O rap sempre esteve na linha de frente das mudanças, sempre dando espaço, seja para o clima neo hippie do De La Soul ou para o rap mais metafísico do Gza ou Gravediggaz e isso desde a mistura de soul e funk com as batidas alemãs do Kraftwerk, o Eletro, o Bass Miami que é a raiz de quase todo o batidão que se toca hoje no Rio de Janeiro, tudo é evolução, na década de 70, Theodore fazia o scratch e nos anos 2000 o DJ QBert lançou um Dvd com 28 nomes de scratchs.
Novas gerações se incorporam ao grosso caldo de idéias, estilos e atitudes o hip-hop se expande como uma epidemia (Ezn 2001 rs) fazendo com que a Alemanha consiga reunir o mundo todo nos seus eventos de graffitti e breaking ou da Coréia apareçam b boys mais famosos que muitos artistas pops da Ásia ou na África onde o hip-hop apesar da pobreza generalizada consegue cobrir, com o véu da ostentação uma boa parte dos olhos de um povo que esta no berço dos primeiros batuques do universo.
Hoje o hip hop esta no Irã , nas cadeias ,na barra da tijuca,nas igrejas na tv e por ai vai...sorte nossa que existem griots modernos que contam e recontam as lendas e repassam as historias de um tempo glorioso...
E olha que muita gente disse que toda essa manifestação mundial , não passaria de uma moda, de um bando de desocupados barulhentos, e , que não duraria até o próximo verão...tshitshitshi....
Como estavam enganados.
Slowdabf – faço